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Donnie Darko

3 dez

(Esse texto contém Spoilers leves)

Um filme capaz de gerar tanta discussão quanto as 6 temporadas da série Lost. Essa frase, apesar de clichê, é a definição exata daquilo que Donnie Darko nos propõe: discutir filosofia, viagem no tempo e todas as inúmeras teorias envolvendo o espaço-tempo de que se tem conhecimento.

Escrito e dirigido pelo estreante Richard Kelly, o filme foi lançado diretamente em DVD e produzido pela atriz Drew Barrymore, que também está no elenco. Na história, Jake Gyllenhaal interpreta Donnie Darko, um jovem adolescente que sofre de esquizofrenia e tem alucinações constantes com um coelho gigante que atende pelo nome de Frank. Segundo o coelho, o mundo vai acabar em exatos 28 dias, 6 horas, 42 minutos e 12 segundos (!).

Logo no início encontramos Donnie acordando no meio de uma estrada deserta. O personagem se levanta, olha para os lados e sorri como se aquilo fosse comum. Ao som de Never Tear Us Apart do INXS acompanhamos Donnie de bicicleta até sua casa onde conhecemos o restante da família. Maggie Gyllenhaal, irmã de Jake na vida real, interpreta a irmã mais velha de Donnie, Elizabeth Darko. Holmes Osborne faz o pai Eddie Darko e Mary McDonnell sua esposa Rose. Claro, não podemos esquecer da filha mais nova do casal, a jovem Samantha Darko interpretada por Daveigh Chase.
Apresentações feitas vamos às considerações. O filme inicia como um drama familiar onde a família senta-se unida à mesa do café e expõe os problemas, as vontades, os desejos e claro, criam intrigas que à princípio devem permear durante todo o filme. Essas cenas também estabelecem as personalidades de cada personagem e fica claro que a esquizofrenia de Donnie torna as relações um tanto conturbadas. Além de tudo o rapaz é sonâmbulo, e em uma dessas suas saídas no meio da noite encontra o coelho Frank que lhe conta a tal profecia do fim do mundo. É então que entendemos porque ele estava no meio da estrada no início do filme.

Outro acontecimento importante é que no momento em que Donnie volta pra casa, após ter encontrado o coelho e ter acordado mais uma vez na rua, ele se depara com uma cena inusitada: A turbina de um avião caiu sobre sua casa, exatamente no seu quarto, destruindo o cômodo. O mais intrigante é que não se encontra o avião que seria o suposto dono da turbina e, segundo informações, nenhum avião teria passado naquela área durante a fatídica noite.

É a partir daí que o filme ganha um tom de suspense, com a câmera se movendo sorrateiramente pelo ambiente como se seguisse os personagens sem ser percebida. A sequência dos alunos chegando na escola, abrindo as portas do ônibus ao som de Head Over Hills é um verdadeiro videoclipe da ótima música do Tears For Fears, impressionando por ter sido filmada sem cortes. Abro aqui um parênteses para destacar a trilha sonora cheia de sucessos dos anos 80 como Duran Duran, Oingo Boingo, Joy Division entre muitas outras.

Surgem então as primeiras perguntas: Quem é o coelho? Ele teria salvado Donnie ou foi apenas uma coincidência? O que acontecerá em 28 dias, 6 horas, 42 minutos e 12 segundos?

Surgem também os personagens intrigantes. A professora liberal Karen Pomeroy (Drew Barrymore) tem algo no olhar que declara saber muito mais do que diz, e a aluna Cherita Chen (Jolene Purdy) que parece sofrer de sérios problemas mentais, e olha para Donnie como se olhasse para um fantasma. É como se a menina soubesse que era pra ele ter morrido esmagado pela turbina enquanto dormia. Claro, todos sabem disso, mas é como se a garota enxergasse além daquilo que todos vêem, o que não fica claro no filme.
Aliás muita coisa não fica clara no filme, mas abre um leque de possibilidades incríveis pra nerd nenhum botar defeito. Não, não se trata de um filme propriamente nerd, não é Scott Pilgrim e não tem referências de videogames, mas carrega informações que abastecem muitos blogs desde 2001, quando o filme foi lançado.

Mais adiante no filme Donnie descobre uma certa relação com uma antiga professora chamada Roberta Sparrow, autora de um livro sobre viagem no tempo e começa à pesquisar sobre o tema com a ajuda de um professor. Somos apresentados então aos wormholes (buracos de minhoca), mais popularmente chamados de fendas no tempo.

O conceito de viagem no tempo foge do clichê “homem volta para o passado e altera o futuro” e é apresentado de forma até mais crível, por mais incrível que tudo isso seja.

É aqui que se encaixa a comparação com Lost. Pra quem não acompanhou a série, a trama principal girava em torno dos sobreviventes de um avião que sumiu nos ceús ao atravessar uma tempestade magnética (!) caindo em uma ilha que, na minha concepção, situa-se em um universo paralelo. Com a turbina que  “mataria” Donnie Darko é a mesma coisa. Nesse caso, apenas a turbina ao se desprender do avião teria “viajado” no espaço-tempo e atingido a casa de Donnie Darko.
As interpretações são muitas, e uma delas é a de que o que se viu não existiu ou só existe em um universo paralelo. Mais especulações sobre os fatos entregariam o final do filme. Assista e tire as suas conclusões.

A verdade é que muita gente vive em estado de alerta até que uma turbina de avião abre seus olhos pra vida. O problema é que às vezes isso acontece tarde demais e nem sempre se tem a sorte de sair ileso.